sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Well this is a good idea, he wouldn't do it if it wasn't

Desiludir, oposto de iludir.

Apercebe-se quem sabe, quem sabe que um dia soube e não sabia.
Quem soube desiludir a ilusão, a ilusão de quem a inventou e não existia
Quem a ilustrou em folhas com vida, e agora não as entendia
Apercebe-se quem soube, quem soube iludir um dia.

"You left before the lights came on,
Because you didn't want to ruin,
All the lust that was brewing,
And I suppose that's the price you pay,
Oh it isn't what you say?"

Arctic Monkeys - Leave Before The Lights Come On

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A man among men

Certifiquemo-nos da existência do corpo
Em novos lençóis, voltar a ter ilusões

Cerifiquemo-nos da incerteza da certeza
Da luz apagada em quartos colapsados
Do silêncio legendado em lábios selados
Certifiquemo-nos da certeza da beleza

O porquê das palavras cansadas
Das caras aliviadas
O porquê de me sentir de alma lavada
Nesta estrada que me leva a nada

Certifiquemo-nos do fim da tristeza
A morosa ama da noite acordada
A escura hora que enfim me tocou
Certifiquemo-nos que isto tudo nos abraçou


Certifiquemo-nos então que nada escrito é isto.
Que nada disto é visto.

sábado, 17 de novembro de 2007

A strange form of life




Kicking through windows

Rolling on yards



Estranha capacidade de me chatear
A imensa vontade de poder parar
De poder parar este mundo
Este mundo que não pára de girar







Bonnie "Prince" Billy - Strange form of life

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Psicografia em folha branca

"Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.


Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.


Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,

Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o
momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
Nem fomos mais do que crianças.

Ricardo Reis


São as ondas em rios estagnados. São as margens seguras. Para onde?
São as palavras sentidas escondidas sobre a sombra do sol que detesto.

É só o simples não aceitar
De ver vidas vividas em quartos sem portas.

Capaz de interromper os meus maiores devaneios?






Nunca soube gostar do doce ou do amargo. A vida sempre se me apresentou entre o paralelismo dos dois, um branco outro preto.

Um sim um não, um não um sim.

Até ao dia que decidi, instintivamente, experimentar o cinzento. A larga escala de sim e de não, o extremo da contradição.
O amargo esconde-se no doce, o doce desliza no amargo. Um sabor real.
O encontro entre águas agitadas, o encontro de almas trocadas, num momento só, a larga escala entre a incerteza e a sua força oposta a que chamam certeza. De nada. De tudo.
Do fim e do reverso, conheço o começo.
Uma recta paralela ao horizonte, sem uma única história que se conte, somente um conto, a que ninguém quer por o ponto.

That´s it. And that´s right

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Tenho de dormir.

10 horas por dia, dizem os licenciados, quantas puderes dizem os desleixados.

Deixo as almofadas de lado, tombo a cabeça no chão, aqueço os olhos vidrados. Vamos lá começar então.

Está escuro, delineado. Uma daquelas coisas de cozinha. Daquelas em que vivi. Sim. É um balcão de bar dentro de um quarto iluminado pelas janelas envidraçadas de luz morta. É gente viva, é gente desconhecida. Estou em pé, de longe, sentado no sofá entre pessoas que não conheço. Não tinha visto a mesa mesmo à minha frente. O bar do balcão está cheio de garrafas meio vazias.

Olá. Olá. Bebi. Olá, olá. Bebi. Olá, olá, fumei, bebi.

Sou monte aglomerado de uma cama. É minha. Não é bem minha, porque a minha não é bem assim. Mas ela também não é minha e está em cima de mim. Não é bem em cima, é mais em baixo. Uma mão. Fria. Não é minha, mas é mortífera, é vida. É impulso, é um segundo. É tudo. É gente desconhecida, é ela, e ela é bonita.

Era o céu e o céu estava frio, naquela noite de manhã